A ciência não é um órgão de conhecimento. Ela é a hipertrofia de capacidades que todos têm. Isso pode ser bom, mas pode ser muito perigoso. Quanto maior a visão em profundidade, menor a visão em extensão. A tendência da especialização é conhecer cada vez mais de cada vez menos."
Os 2 parágrafos acima constam do livro de Rubem Alves, "Filosofia da Ciência", págs 10 e 12 da Edição número 11, setembro de 2006.
Na verdade, os parágrafos acima podem traduzir, ainda que, resumidamente, o que é o campo supostamente obscuro da "Teoria da Ciência".
Campos marginalizados pelo mercado financeiro?
Sim e não.
Sim, porque a maioria absoluta não dá a mínima pra isso, não sabe o que representa. Além do mais, essa mesma maioria absoluta "baixa a cabeça" para a Ciência e nem sonha em questioná-la, ou mesmo relativizá-la.
Não, porque 2 dos mais brilhantes players e estudiosos do mercado financeiro se jogaram, mergulharam e trouxeram à tona, de alguma forma, tal campo para o universo de Wall Street.
São eles: George Soros e Nassim Taleb.
George Soros explicitou isso quando expôs a sua "Teoria da Reflexividade" em suas inúmeras entrevistas e livros.
Nassim Taleb escancara a "Teoria da Ciência" em seus 2 livros: "Iludido pelo Acaso" e o mais conhecido "A Lógica do Cisne Negro".
Esse, pode ser considerado um tratado sobre a "Teoria da Ciência", tamanha a maneira com que se joga Nassim Taleb.
É dentro desse contexto que passamos a não buscar soluções prontas.
A não nos prendermos a uma simples, fácil e confortante visão de um mundo em "paz", tranquilo e rumo ao "Reino da Fantasia".
E como fazemos isso?
Muito mais simples "perguntar-questionar" do que responder...........
Vamos lá.....
Abaixo, nós temos um gráfico onde mostra o Taxa de ganhos-lucros/por ação do SP500.
Vemos que ao redor de 2000 e 2008, os ganhos por ação das empresas listadas pelo SP500 atingiram pontos estratosféricos.
fonte: multpl.com
No início dos anos 2000, vivíamos o ápice da Bolha da Internet e em 2007-2008 o ápice do Subprime americano.
Em ambos os momentos, isto é, após o índice alcançar níveis fortemente sobrevalorizados , tivemos 2 quedas fortes dos índices americanos, tanto do SP500 como Dow Jones.
Vistos nos gráficos abaixo ambos perderam, considerando o ajuste da inflação já embutido nos gráficos, cerca de 50% em 2007-2009 (MARCADOS NOS GRÁFICOS COMO Y) ;
Em 2000, Dow Jones perdeu cerca de 40% e o SP500 perdeu cerca de 50% (MARCADOS NOS GRÁFICOS COMO X).
Dow Jones - 100 anos
Fonte: macrotrends.net
SP500 - 90 ANOS
fonte: macrotrends.net
Agora, o mais curioso.
Reparem que, mesmo com ganhos altos, embora nada "dantescos" como em 2000 e 2007, as épocas em que Dow Jones e SP500 caíram mais fortemente foram na Crise de 29 e na Crise do Petróleo em 1974.
Após 29, do topo até o fundo, Dow Jones caiu cerca de 80%, e no período 65-82, Dow Jones caiu cerca de 70%, enquanto o SP500 de 1968 até 1982 caiu cerca de 60%. (Vejam os pontos marcados em A para 1929 e B para período 65-82 )
Ou seja, as correções mais severas aconteceram não por razões de extremas sobrevalorizações de preços, do ponto de vista "ganhos lucros/preços".
Me parece óbvio que o eixo da discussão deva ser girado pra uma outra direção.
Sem nos aprofundarmos no texto, é possível resumir a questão em alguns pontos centrais.
Em 1929, é possível virar o eixo para algum tipo de "crise de confiança" que recaiu sobre os bancos, a tal ponto que podemos especular que o efeito manada tenha atingido o ápice em toda a história financeira americana.
No final dos anos 60 e, principalmente nos anos 70, entra em cena uma outra variável; a saber, "Juros"....
Reparem o gráfico de 140 anos dos papéis de 10 anos do Tesouro dos Estados Unidos, aqueles que refletem uma taxa de mais de longo prazo, mas que, em essência, nada mais são do que a "expectativa futura implícita" da taxa atual de juros de curto prazo.
Reparem o Bull-Market que ocorreu nesse período delicado da Economia Mundial, 1970-1980; reflexo, essencialmente, do esforço do governo americano em conter os estragos provocados pela Crise do Petróleo e seu impacto sobre a inflação.
Treasuries 10 Anos EUA - período 140 anos
fonte: multpl.com
Continuemos a girar o eixo do "problema".
Voltemos a olhar o gráfico acima dos juros dos títulos de 10 anos do Tesouro Americano durante, nada mais, nada menos, do que 140 anos.
Reparem que o nível de taxa de juros praticado até cerca de 2-3 meses atrás se situava no mesmo nivel da Segunda Guerra Mundial, período 1939-1945.
É assustador , não é? As taxas começaram a virar, como mostra o gráfico.
Mas a gênese da questão continua....
Até que ponto precisamos ir para "consertar" velhos problemas?
Até que ponto tal situação "assustadora" não intensificou os mesmos velhos problemas?
Mais....
Se o objetivo era "estabilizar" ou "atenuar" os impactos produzidos pela Bolha da Internet ou pela Crise do Subprime, qual seria a consequência de movimento "Contrário", isto é, trazer as taxas pra níveis "normais"?
Vista pela ótica do período 1970-1980, a volta a níveis normais não se daria de modo "tranquilo" e , muito menos, provocaria movimentos "lineares" ou "suaves" de rearrumação de ativos.
Agora, voltemos a atenção para o Gráfico "nominal" , sem considerar os efeitos da inflação americana, do Dow Jones, destacado abaixo.
Novamente, se a intenção ao trazer as taxas de juros pra baixo até os níveis "bizarros" atuais, e, portanto, novamente "atenuar" os riscos e a volatilidade, por quê a queda nominal foi maior 8 anos depois?
As 2 linhas abaixo, formando um cone, não teria a intenção de explicitar um aumento do risco e, por conseguinte, uma futura queda nominal maior do que a que vimos em 2000 e 2008?
Dow Mensal - escala logarítmica - 20 anos
Seriam as taxas de juros a "Mãe de todas as bolhas"?
E se as taxas de juros forem a "Mãe de todas as bolhas" , em que base estaremos falando?
Quem irá sofrer mais e menos?
E o Brasil nisso tudo?
Um país que "nadou de braçadas" na Bolha das Commodities dos últimos 10 anos, torrou dinheiro com funcionalismo público, gastos públicos, viagens, compras internacionais e não fez a lição de casa.
Nessa hora, a Ciência não me ajuda , porque ele me põe num quadrado, inerte, sem pensar.
Não sabemos de nada nesse momento.
Quem está exposto, quem não está.
Isso não é um texto "cansativo", negativo.
É apenas um exercício de reflexão para não sermos o "Peru de Véspera".